20 setembro, 2014

O poeta e a jornalista


- O que te motiva a escrever?
- A dor.
- A dor?
- Sim. Escrevo porque tudo dói. Algumas vezes é uma dor bonita, de contemplação, quando por exemplo vejo o céu em suas variações diversas de cor e formato, ou ainda, com as estrelas tão pequenas e majestosas. Não dói em você perceber que és parte de um todo? Essa é a dor bonita, a consciência de que sou pó, um eco na imensidão, uma pequena parte do infinito. Isso é lindo e dói. Outras vezes é uma dor intocável que passa febre ao próprio corpo, queima, arde e evapora. E só passa quando a primeira linha é escrita. Essa é a dor sufocante! Pior que essa, só a dor da fome. E já parou para pensar? Quantos não estão aí pelas ruas a mendigar um prato de comida, um copo de dignidade e um tanto de afeto... Isso tudo me dói. A dor da minha própria existência de ser parte de um universo incrível rodeado de seres humanos assustadores. E o que dói é saber que posso ser terrivelmente assustador também... E pra não cair em tentação passo tudo para folha em branca. Lá eu posso ser cruel e amável ao mesmo tempo... Posso sangrar dia e noite como as mulheres que têm seus ciclos com a lua. Não existe inspiração para mim, o que existe é só dor, e que me perdoem os grandes poetas, mas eles não passam de seres sensíveis às dores humanas. Nada mais que isso. Somos pó. Um pó raro, talvez. Que contribui para a beleza do planeta.

(...)

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