23 março, 2014

 A você que me lê:

                          O meu hábito de escrever é uma necessidade. Só os loucos sabem. Muitas vezes palavras soltas. Palavras que o meu corpo não verbaliza e nem precisa. O meu hábito de escrever não é vaidade, não é verdade. Só os loucos sabem. Muitas vezes palavras tortas. Palavras-portas. Que abrem e fecham possibilidades, no fundo. Palavras que o meu corpo necessita para ser vivo no mundo. Ainda que eu não entenda muita coisa da arte de escrever, continuarei, porque a fonte inesgotável da vida se dá pela palavra. Aquela que arrebata o mais singelo leitor e ao próprio autor.

15 março, 2014

                                Esperou amanhecer para ver as estrelas!
                                                Esperou anoitecer para ver o sol!
                                                                                   Esperecéu.
as vírgulas são precisas
porque pontos finais
não passam
de
ilusão
nada termina
na vida
nem no texto
só o respiro
pausa
imagina
          ação

novos ares

aonde quiseres ir vá
aonde estiveres seja
aonde amares veja
mares
   ares
só no silêncio me desnudo
meu corpo é barulho
o tempo
todo
todo
o tempo
ainda é pouco
tempo
para o grito
do meu
corpo

fita branca

a palavra nua
crua
na tua
pele bruta
fita fria
lua

o juízo final

toquem as trombetas
o glorioso dia chegará
toquem as punhetas
a morte em gozo
o céu e o inferno
a humanidade
no poço
a terra sedenta
de vida em gozo

reflexo

a casa vazia
seu rosto no espelho
seus olhos
elo
a casa trazia
seu cheiro
aluga-se
a morada
a casa vazia
tudo nela
tinha
menos espelho

11 março, 2014

Hoje é uma boa madrugada para matar alguém

            Madrugada de terça-feira, desliguei o computador, tentei me desconectar de tudo, desliguei o celular, fui ao banheiro escovar os dentes. Machuquei a gengiva, droga! Cuspi sangue, o sangue no ralo da pia rodopiou feito pião. Odeio sentir o gosto do meu sangue, odeio a cor vermelha, odeio. Se fosse mulher viveria até a primeira menstruação, depois me mataria. Sentiria o sangue escorrer pelas pernas, seria capaz de aproximar a língua no joelho para saber o gosto e depois me mataria. Terminei de escovar os dentes, forcei um sorriso tosco, sem graça para averiguar o amarelidão da minha boca, malditos cigarros de duas em duas horas, bendita solidão. Hoje é uma boa madrugada para matar alguém. Sozinho no apartamento calculo, ainda em frente ao banheiro do espelho, a morte. Hoje é uma boa madrugada para matar alguém. Lavo o rosto e me jogo do décimo quinto andar. Jogado no chão feito bicho sangro. Último suspiro e tudo vermelho.  

10 março, 2014

Flores

Menos pudores, mais cores, menos dores, mais amores, menos bastidores e para cada estréia na vida: mais flores!

04 março, 2014

           e quem me dera por um descuido ter de volta tudo aquilo que não fui

poesia morta

na casa da solidão

                         que não vinga
                  e
não esforça

que não morre
               
             e

não mata

Luiza

Quis fazer uma coroa de flores para Luiza, flores do campo, suas preferidas.
Quis andar de mãos dadas com ela pela cidade.
Quis revelar toda a verdade
Quis roubar beijinhos surpresos, estalados, molhados, de esquimó...
Quis desembaraçar dos seus cabelos o nó
Quis ser a paz de Luiza
Quis ser a música de Luiza
Quis ser a perturbação de Luiza
Quisera eu tanto querer e fui
E sou e ainda quero
Colando estrelas no teto
Aos braços dela, meu ego
Luiza lhe entrego
Tudo aquilo que quis
E quero...
Zombam os incrédulos, os incoformados
Com um amor devoto assim
Pasmem os preconceituosos
Luiza és a parte bonita de mim
Me ganha num olhar terno sem fim
Quis desenhar-te nua, Luiza
Quis com lápis colorir sua boca na minha
Quis eternizá-la numa moldura
Mas são as palavras cruas que brotam
Nessa noite escura
Venha me despir a roupa
Te quiero mujer y loca
A língua na aréola
O arrepio no corpo
Felicidade completa
Um choro pro gozo
E o meu amor é dela!



02 março, 2014

auto-sentido

                   Em posição ereta. Postura erguida. Encontro a brecha: o universo me faz viva. Espio o divino e sorrio. De tudo que posso ser e sou, torno-me céu, terra, mata e rio. Entorno, derramo, transbordo. Toco nuvens e vôo. Encosto meu eu no mundo. Deixo-me ir. Deixo partir meu corpo nas fronteiras da vida, das estradas de qualquer ida. Deixo-me parir todos os desejos de uma alma faminta... E volto. E morro. E vivo. E só vivo porque SINTO.