28 setembro, 2014

Pós- poeminha livre repetido que só

gosto do poema curto
que destrói o muro das
palavras desenhadas costuradas amarradas bordadas
pela agulha clássica

gosto do poema curto
que desconcerta o mundo
das palavras não-colocadas arranhadas borradas
que abençoa a vida com a palavra inventada
neologismo ismos ismos eis o verdadeiro purismo
sufixos sufocantes
o EIS é bonito mas é cansativo

gosto do poema curto
da sua desconstrução pueril
que não empresta-se à
criação servil
malcriado desobediente
que traduz indeduz reluz o pó e mar

sem ordem
sem nexo
pobres rimas
sem êxito
sem glamour linguístico

sem códigos exatos
exaustos do espaço lírico
por isso insisto
gosto do poema curto

sem ordem
sem nexo
pobres rimas
sem glamour linguístico
sem êxito
sem galanteios floreios
flores mortas de plástico
por isso insisto
gosto do poema curto
este que corre ligeiro
efêmero faminto
fugido
fudido
o que me deslumbra é a estética do sentido
a que somente a palavra cria
re
cria
e voa
repetida
reiventada
na tábula rasa ou no twitter
adorada pelos poetas mais modernos e pelos chatos conservadores
que pela palavra em seu estado bruto ou lapidado
conservam suas dores
chatice para a lápide

gosto do poema curto
que
corta a forma
que
rasga o véu
e não deixa cobrir a nudez da escrita
mas antes
fere a estrutura
para despir p a l a v r a s
PaLaVrÕeS
gosto do poema curto que não nega sua origem
licenciado em Latim
abusante da licença
POÈTICA
desafiante da langue e parole

gosto do poema curto
que não é silenciado pela
gramática que mata
o pensamento
que GRITAAA e é mudo em si
que se repete sozinho
e revigora-se
sem precisar rimar e
remar para fazer sentido
o poema
o pó e mar.

P. Souza

20 setembro, 2014

Amor, às vezes, é apenas um passarinho querendo voar pra perto. 
sou meus personagens também
eles são minhas melhores verdades

a você curioso, tudo é mistério glorioso.
aos artistas, a glória da criação apaixonada.

asas.

Arcadismo X Feminismo


Dirceu de Marília
disse a feminista
Mar ilha de Dirceu 
disse a poesia

O poeta e a jornalista


- O que te motiva a escrever?
- A dor.
- A dor?
- Sim. Escrevo porque tudo dói. Algumas vezes é uma dor bonita, de contemplação, quando por exemplo vejo o céu em suas variações diversas de cor e formato, ou ainda, com as estrelas tão pequenas e majestosas. Não dói em você perceber que és parte de um todo? Essa é a dor bonita, a consciência de que sou pó, um eco na imensidão, uma pequena parte do infinito. Isso é lindo e dói. Outras vezes é uma dor intocável que passa febre ao próprio corpo, queima, arde e evapora. E só passa quando a primeira linha é escrita. Essa é a dor sufocante! Pior que essa, só a dor da fome. E já parou para pensar? Quantos não estão aí pelas ruas a mendigar um prato de comida, um copo de dignidade e um tanto de afeto... Isso tudo me dói. A dor da minha própria existência de ser parte de um universo incrível rodeado de seres humanos assustadores. E o que dói é saber que posso ser terrivelmente assustador também... E pra não cair em tentação passo tudo para folha em branca. Lá eu posso ser cruel e amável ao mesmo tempo... Posso sangrar dia e noite como as mulheres que têm seus ciclos com a lua. Não existe inspiração para mim, o que existe é só dor, e que me perdoem os grandes poetas, mas eles não passam de seres sensíveis às dores humanas. Nada mais que isso. Somos pó. Um pó raro, talvez. Que contribui para a beleza do planeta.

(...)
Nem coberta, nem nua.
Ereta.
Crua.

Rabisca tua 
sina
Cisma no meu corpo
Descobre tua
ira
Carisma 
Fina malícia

Do desejo épico
finda
Tua escrita
cozida
à minha pele.

Nem coberta, nem nua.
Ereta.
Crua.
Sou a peste.

[escreva]
Auto-retrato

Auto-recorte

Auto-imagem

Auto-moldura

Auto-sentido

Auto-absurdo

(de altos avessos meu mundo está cheio)
pelas pétalas
pela pele
pela espera

pelos pêlos do seu corpo

pelas pétalas
pela pele
pela espera

pelas flores do seu tronco

(não há nada que eu queira mais do que florir contigo...)

Nós mar


é preciso contemplar a vida
as idas
as vindas
os vivos
partidos
repartidos
que pelas janelas abertas
marginalizam
seus
caminhos

Eu contemplo

Tu contemplas

Ele contempla

Nós mar
ginalizamos

Vós contemplais

Eles contemplam

à margem estamos da beleza
dessa
vida
cretina
surrealista


Nós 
mar
Gina
li
zamos

é preciso se manter vivo
enxergar a beleza das coisas
é não morrer
é morrer com poesia

e no fim das contas
é ela quem salva e salvará o homem
de si
do mundo
dessa
vida
cretina
surrealista

Suicídio


Para Tito

Estou cansado de tudo,
Disse o passarinho,
E se trancou na gaiola.
a tecnologia libertará o homem

a tecnologia cegará o homem

a tecnologia é o começo da liberdade que aprisiona

no fim

todos ficarão cegos

pela

TEC

NO

LOGIA

no fim

o computador

computará a dor

do homem.

18 setembro, 2014

um corpo que dança balança a vida
um corpo feminino em movimento 
é

a  própria vida 

Enigma

imagina
ação

é

a menina perturba porque sabe dançar
a mulher me desloca porque sabe olhar

auto-retrato 
dos olhos dançantes 
e

o mundo roda devagar

entro na dança
no jogo absurdo

de querer desvendar

o que é mistério

tolice. tolice. tolice.

a menina-mulher dança
para ser 
        contempla
                        ação

e sabe reinar!

dançando com o corpo todo

e com o olhar.








13 setembro, 2014

Não quero ser a filha ingrata

Certas músicas nos deslocam. Foi assim que aconteceu com a música Horizonte Mãe, dos grupos musicais : O círculo e Ilê Aiyê. Duas pérolas da Bahia, que, graças ao mar que é a internet, eu pude mergulhar e encontrar. Conheci assim, quando assistia a um clipe no youtube, uma canção de Clara Nunes, e a música Horizonte Mãe apareceu ao lado como sugestão para ouvir. Não costumo muito atender as "investidas do youtube", mas me rendi e ainda bem! 

Horizonte Mãe não é só mais uma letra animada, ela contagia sim, mas é sobretudo, uma afirmação identidária de um povo, que se reconhece pela sua história e cor. Quem assiste ao clipe logo se depara com a questão de gênero, vemos mulheres absurdamente lindas, com sorrisos, gestos, costumes, erotismo, movimentos que dão luz à dança e a proposta do clipe, porém, no meu doce entendimento, estão elas representando a grande nação mãe: a África.

A África que muitas vezes deixamos à margem de nossas vidas, que  em tempos de Ébola, ganha destaque na mídia, e olhamos para ela como terra podre, com descaso e com pena. E que sentimento mais obscuro, essa coisa de sentir pena! Será mesmo que deveríamos sentir pena? Compaixão é diferente da pena. Pena era a África quem deveria sentir da gente. Mas ela é majestosa e de tão sublime não rejeita e não nega seu povo, muito pelo contrário, faz enriquecer seja na cultura, ou na cor, todas as suas gentes. Ela é o berço de todas as nações, a mãe guerreira que não negou leite ao seu filho branco. A mãe periférica que insiste lutar por dignidade. 

O Brasil é a segunda casa da mãe-África, e o que fazemos por ela? Maltratamos, matamos seus filhos mais legítimos por puro racismo e preconceito. É de uma desonestidade, maldade, ignorância, pequenez que fica difícil prolongar esse texto, que surge mais como uma contemplação do que senti ao ouvir a letra e assistir ao clipe. Da beleza que foi me deslocar para minhas raízes africanas, totalmente fertéis. 
     
O corpo da mulher-África é como um grito na hora do parto! Um misto de alegria e dor. Gritamos sempre em liberdade que ser África é ser bom!!! Somos todos filhos da mesma  mulher! Não matemos a nossa própria mãe que, a cada dia, chora por um filho que não sobrevive, que morre, ora sendo envenenado pela sua própria ignorância, ora sendo assassinado pelo racismo. A mãe África clama. O sangue que corre lá, corre na terra brasileira também. O lá  é aqui. E o aqui é lá. As fronteiras são construídas para que sejamos ingratos com ela e percamos a poesia da nossa própria identidade. Para que vivamos em guerra, perdendo a fé na humanidade, já que o Ocidente sempre nos ensinou que não somos todos irmãos.

Contemplemos: HORIZONTE MÃE

Identidade

quando penso que sou

não

       sou

Estou

quando penso no sujeito pós
           
         moderno


Erro

o sujeito hoje não quer ser


mataram o EU