13 fevereiro, 2014

Cagando

                    Achar o que se escreve uma grande merda. Merda das piores, que não estão no vaso sanitário nem no planalto. Pura merda humana. Jogada a céu aberto. Na rua. Mais precisamente na sua calçada. Quem aqui chega e deseja o mínimo de decência literária não encontrará. Mas o fedor da merda que ofende e causa mal estar será o sentido maior da sua vinda neste espaço vazio, incompleto, sagrado. Quem muito não engole sapos tão pouco sente-se desconfortável com a merda alheia. Cago palavras o tempo inteiro pra não cagar a própria vida de merda. Eu gosto do cheiro cretino que a humanidade exaura e nem percebe. Não se dá conta porque acha que caga cheiroso. A merda do outro sempre será mais fedorenta, feia, vulgar. Escrevo porque não me esgotam os sentidos do meu léxico ignorante, violento, perverso, pervertido e libertino. Quem mê vê sorrindo, não me vê cagando, quem me vê escrevendo não me vê cagando, quem me vê cagando me vê parindo.
                  O que eu não escrevo, eu cago, porque o que escrevo é o que eu como, é o que eu bebo (e quanta merda a gente vai engolindo por aí mesmo sem querer), é o que o meu corpo faz caminho para o nascimento, não aborto de forma alguma, é o que eu não consigo vomitar. E o que fica do que eu escrevo? O cheiro fedido perdido no espaço. Incomoda mas depois passa. 

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