16 fevereiro, 2014

Domingo

                   As bonitas saudades gostam de chegar pelo domingo, quando a rotina pausa. Quando seu corpo já não aguenta mais o delírio dos afazeres diários e precisa voar para um descanso qualquer, porque sabe que tudo vai começar outra vez. Você desliga o computador, não quer assistir nem a TV, você deita em sua cama vazia que não foi arrumada e sente o cheiro da noite anterior. Só por hoje o mundo pára. No exato instante em que deita, sua mente viaja: pensamentos conflitantes, entre a cobrança de ter que levantar para adiantar a semana e a vontade de não fazer absolutamente nada. Você já não deseja mais pensar em nada, sentir nada, até que a memória traçoeira brinca com imagens da menina que caminharia com você até sua fase-mulher. E uma coisa que não consegue classificar, arde em você. Uma vida colorida dança em sua mente, um sorriso infantil te arrebata docilmente. Você agora consegue acreditar no eterno, e fecha os olhos. O reencontro com o passado é a forma mais estranha e inteligente que o ser humano tem para o conhecimento de si. A menina abraça a mulher, a mulher sente-se segura no pequeno espaço tempo irreal e tão real nos braços da menina. Abre os olhos. Resgata a menina, torna-se a menina. Descansou sobre uma vida inteira, aproveitou seu domingo e agora torce nostálgica pra que a semana seja acompanhada pela doce menina que a completou mulher. Parte do seu eu mais corajoso e majestoso. Um sentimento de glória paira no seu domingo e no seu interior. Revigora-se os sentidos para sustentar com pés leves um corpo pesado que, outrora, angustiado necessitava do êxtase por cinco minutos. Conseguiu muito mais, parou tudo, parou sua vida, ganhou vida, aliviou o presente. Bobeira cruel é querer apressar o futuro. Com tanta coisa pra fazer, o mais importante é não esquecer de ser. No fundo, no fundo, ela é uma mulher mais assustada do que atarefada, uma menina que precisa correr o mundo antes de virar fruta madura. O tempo não foge, tudo faz parte da ilusão que criastes para dar conta da mulher em você. Talvez o domingo seja feito para transbordar serenamente. Com a leveza de reconhecer-se inteira sem pressa alguma... Sem pressa alguma.

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